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27 agosto 2006

Lagoa da Jansen


LAGOA ANÔNIMA

Aurora da Graça

É outra lagoa
É outra cidade
É outra história
ciclovias e pedestres
lado a lado
expostos ao odor acre que exalas
das entranhas de teu mar escuro
e represado
não tens nome por agora
és anônima sem nome de mulher
de poeta ou senador
renasces dos escombros de teu mangue
em cada manhã solar de maresia
pelas mãos de homens alugados
pra modelar teu corpo de curvas alongadas
sobre teu solo inventado de concreto
desenham praças e arenas
quiosques arquibancadas monumentos
no lugar da cidade flutuante sobre tábuas e barris
de antigamente
tratores bicicletas e caçambas
amortecem teu ventre renascido
braços abertos enfileirados para o nada
os postes são faróis fachos ou guias
pra quem anda ao teu redor na madrugada
o mar que herdaste se afasta
levando barcos sarnambis e caranguejos
não advinham a beleza que virá
não esperam a paz que não prometes
em tuas águas paradas
lagoa anônima
espelho da cidade amordaçada
sem grito de esperança
sem futuro prometido
sem fiança
não te enganes com as festas que virão
teus enfeites tuas luzes teus aplausos
convidados importantes entre faixas e holofotes
aproveita essa festa premeditada
e te resguarda para quem te viu surgir
da piçarra acumulada e avermelhada
caminhões traiçoeiros e poeira
alegra-te lagoa fabricada!
sob o sol e a chuva que virá nesse dezembro
ninguém se negará ao teu fascínio
paisagem construída aos pedaços
de verde encomendado palmo a palmo
boca de mar provisória e solitária
sem navios.

Um comentário:

Alba Regina disse...

querida, vc selecionou a foto da melhor parte do filme...nossa!!! a cena q melhor traduz sylvia no filme inteiro! esta e a cena inicial da bicicleta....caramba!!!
q vista linda vc deve ter de casa hein?! tira fotos e posta...é sempre tão bom olhar com o olhar do outro...beijo enorme!!! ( cheguei viu?! ) ;)