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16 outubro 2006

Pequeno oratório do poeta para o anjo

(Foto capturada em um blog)
Era musa
e parecia ser Anjo.
Era musa.
....
Naquela tarde de maio
(ou era junho?)
o Anjo
água escorrendo natural e pura
postou-se à minha frente sorrindo.
E ninguém me ouviria
mesmo se eu gritasse.
....
Era candeia
e parecia ser o lume.
Era a candeia.
...
Nomeio-o
Alma
adequado ao clarão
que traz consigo.
...
Nem distraído
nem remoto
este Anjo
apenas hesitante
entre o bem e o mal
como se um e outro
ele não fora
e assim desapercebido
ora luz ora sombra
passasse por mim.
Em contrapontos.
...
Era quimera
e parecia ser o amor.
Era quimera.
...
Graça flutuante
figurava estar sentado.
A cabeça era magra
coberta de cachos
junquilhos
de onde o sol jorrava.
As asas
mantidas fechadas
tocavam o chão
longas emplumadas
o corpo intangível.
...
Seus olhos
castanhoverdecinzadourados
escarlates me olhavam
como se fossem
desde sempre
a límpida palavra.
Era belo
e assim se apresentava.
...
Era o caule
e parecia ser a flor
Era o caule.
...
Veste-se de blue
e um fio transparente
costura-lhe
asas e costas.
...
Quer ser apenas
azul e belo
como é a paixão.
...
Era flexa
e parecia ser alvo.
Era flexa.
...
O que quer
não me confessa
apenas deita
sobre o poema
e afaga as vestes.
Depois
muito depois
enrolando os caracóis
chora a pátria oculta
hemisférios
alguma tarde de amoras
melodia
perdida na memória.
Que Anjo é este
e a que vem?
...
Era a Beleza
e parecia ser a Beleza.
Era a Beleza.
...
Filho pródigo
abandonou a casa.
De seus vestígios de musa
de seus lampejos de Anjo
brotaram todas as lágrimas.
A dor
incrustada na curva da porta
esperou por muito tempo
a volta.
Depois no rubi deste coração
escreveu seu nome.
[Neide Archanjo, p. 111-121]

Leituras recentes

[ Desenho: Fernando Chuí & Marcia Tiburi]
ESTAR SOZINHA NÃO É SOLIDÃO
Quem tem medo de ficar só não se dá a chance de descobrir as delícias de um encontro consigo mesma.

MARCIA TIBURI

Fundei há anos o MDS, Movimento em Defesa da Solidão, com o objetivo de tornar o "estar só" um direito humano. Eu, que gosto tanto de ficar sozinha, imaginei que a minha demanda encontraria eco em um mundo onde estar junto é sempre possível, nem que seja virtualmente. O MDS tem um líder e um membro, eu mesma. Não aceita parceiros, mas respeita apoiadores e simpatizantes, que podem fundar seus movimentos desde que não queiram se reunir ao meu. Ajudam se mantendo longe. O MDS não presta serviços nem publica manifestos, não pode promover um Disk-Solidão, um telefonema estragaria a sua revolução. Seu lema é até bem antipático: "Me deixa!" Faço passeatas diárias com minha bandeira transparente: o MDS tem que ser invisível, pois quanto mais se mostra mais se contradiz. (Vou parar de falar antes que se espalhe a notícia, acabando com a luta pelo "estar só é bom demais".)...
...Mas ainda estou mais para o Zaratustra, de Nietzsche, que se retirava para as montanhas para isolar-se e voltava para contar as novidades. "Estar junto" sem temperar com "estar só" é tão ruim quanto "estar só" sem saber o que é "estar junto".
[claudia.abril.com.br/edicoes/530/aberto/familia_filhos/conteudo_100610.shtml]
As coisas cheias de seu oco. Quando o oco girava era o tempo que se consumia em espiral. (Tiburi, M. A mulher de costas. p. 18) A viagem para o muito longe desce por dentro da pele. (__ p. 30) ...porque a verdade é um afloramento, mais do que uma pele que se arranca. (__. p. 53).
_______________________________________________________________
O teu corpo em minhas mãos - I
Hoje
olhei tua nuca
como se ali
não houvesse depositado
todos os beijos
que incandescentes
ainda resplandecem!

Neide Archanjo
(Todas as horas e antes, p. 45)

Conto meus poemas
como um avarento conta
suas moedas.
Há um comércio entre o poeta
e a folha a ser lavrada.
Porque custa muito um poema.
Cada palavra é o rosto de Deus
e o poeta um vazio ajoelhado.


Neide Archanjo
(Todas as horas e antes, p. 175)

Não pude ser
o teu amor perfeito
antes esta ferida.
Por isso para ti
não serei a pele
__ poro a poro teu alumbramento __
serei apenas a cicatriz.
Perfeita.


Neide Archanjo
(Todas as horas e antes, p. 167)


02 setembro 2006

VIVENDO SETEMBRO

Eu meu grito
entonteço a primavera
eu meu trapo
limpo o sal desta ferida
eu minha mágoa
me navego a revelia
eu meu passo
recupero meu espaço

dor e festa se entrelaçam
no meu canto
e do sonho me liberto
sem espanto.

(Setembro 1977)

31 agosto 2006

Suaves lembranças!

Place des Vosges, Paris

CHÁS E AZALÉIAS

55 sóis ou 60 madrugadas
55 noites ou 60 meses
55 desejos ou 60 traumas
55 abraços ou 60 beijos
55 amigos ou 60 Lianas
55 aniversários ou 60 anos
55 sonhos ou 60 enganos
55 manifestações de apreço ou 60 recolhimentos
55 bolos de aniversário ou 60 sushis
55 netas Maria ou 60 netos Pedro Samuel e Mateus
55 idéias no trabalho ou 60 caminhadas na praia
55 trajetos no bus ou 60 caronas de amigos
55 voltas noturnas ou 60 viagens de trem
55 manhãs na Barão ou 60 nevadas no Chile
55 mães ausentes ou 60 tias velhas
55 pais atentos ou 60 Beldas galantes
55 páginas escritas em teu louvor ou 60 poemas anônimos
55 filhos e noras ou 60 milagres da vida
55 saladas na Praça Mauá ou 60 lentilhas na mesa
55 viagens à Europa ou 60 Place des Vosges
55 jardins e vidraças ou 60 calores humanos
55 cigarros partidos ou 60 namorados franceses
55 corações flechados ou 60 desejos e amor
55 chaleiras de chá ou 60 sorvetes de menta
55 botões de azaléias ou 60 Amazônias perdidas
(Aurora da Graça, Inéditos)

28 agosto 2006

aurora boreal

ESTAR VIVA

Contemplar a noite
e vê-la arrastar-se pelas entranhas
dos que ainda esperam
em vão
disputando os veios da alma
entre o que pulsa e o que adormece em quietude
desafio constante entre desejos afagos martírios e lembranças
viver
entre o escuro e o clarão prometido do dia
guardião dos olhos abertos
sentinelas da espera
viver
enquanto te excluis e te eximes de mim.

27 agosto 2006

Lagoa da Jansen


LAGOA ANÔNIMA

Aurora da Graça

É outra lagoa
É outra cidade
É outra história
ciclovias e pedestres
lado a lado
expostos ao odor acre que exalas
das entranhas de teu mar escuro
e represado
não tens nome por agora
és anônima sem nome de mulher
de poeta ou senador
renasces dos escombros de teu mangue
em cada manhã solar de maresia
pelas mãos de homens alugados
pra modelar teu corpo de curvas alongadas
sobre teu solo inventado de concreto
desenham praças e arenas
quiosques arquibancadas monumentos
no lugar da cidade flutuante sobre tábuas e barris
de antigamente
tratores bicicletas e caçambas
amortecem teu ventre renascido
braços abertos enfileirados para o nada
os postes são faróis fachos ou guias
pra quem anda ao teu redor na madrugada
o mar que herdaste se afasta
levando barcos sarnambis e caranguejos
não advinham a beleza que virá
não esperam a paz que não prometes
em tuas águas paradas
lagoa anônima
espelho da cidade amordaçada
sem grito de esperança
sem futuro prometido
sem fiança
não te enganes com as festas que virão
teus enfeites tuas luzes teus aplausos
convidados importantes entre faixas e holofotes
aproveita essa festa premeditada
e te resguarda para quem te viu surgir
da piçarra acumulada e avermelhada
caminhões traiçoeiros e poeira
alegra-te lagoa fabricada!
sob o sol e a chuva que virá nesse dezembro
ninguém se negará ao teu fascínio
paisagem construída aos pedaços
de verde encomendado palmo a palmo
boca de mar provisória e solitária
sem navios.

20 agosto 2006

TRAVESSIA!

BEIRA DE MAR

Tu vigiavas o mar
e a solidão marinha
vazava de teu peito
em sobressalto
o mar testemunha meu banho
farto
temporal
o vento testemunha minha fé
e a complacência pela tarde
como lança que defenda minha crença
como quem arde a tarde e seu destino.
(Nó de Brilho, 1981)

[Minha paisagem cotidiana!
Depois da ponte, dobro a direita,
chego em casa e abro uma janela para o mundo!]














Li esta frase em um blog:

"Por que o amor apunhá-la quando antes foi gentil?"

18 agosto 2006

Cena do filme "Sylvia, paixão além das palavras"
Consegui localizar (na locadora) o filme sobre a Sylvia Plath.


17 agosto 2006

Gosto dessa idéia. Se a praticássemos quando nos encontramos com as pessoas
(íntimas ou não) certamente teríamos menos chances de desgaste, stress, desenganos...
o foco dessa boa luz em nós favoreceria nossa boa atuação - palavras e postura.

MARIA BETHÂNIA [Entrevista na revista Playboy / Norma Couri / Nov. 1996]

Foto: encarte do show Tempo...Tempo...Tempo...Tempo

Acho muito bonito uma mulher debaixo de uma cachoeira vestida do que nua, acho mais bonito tirar a roupa de uma pessoa do que já encontrá-la sem. Tudo pra mim tem de ter teatro.
Você vai se sentar para almoçar, não tem teatro nisso? Senta, desdobra o guardanapo, pega o copo... é teatro. A mesma coisa numa relação de amor ou amizade.
A vida é um cenário. E tem que ser bem-feito, com uma boa luz. Um bom espetáculo!

12 agosto 2006

Tarina sorri com os pais!

Ei-la! veio ver meu blog. E ela que sabe tudo de computer...

11 agosto 2006

Viver para sempre?

















Sonho remoto

Se pudesse pear entre meus dedos
o tempo
se pudesse reter entre meus braços
teu corpo
se pudesse guardar dentro dos olhos
tua beleza
se pudesse sentir na minha pele
teus poros
se pudesse acalentar na minha’alma
tua vida
para sempre viveria
apaziguada
sem precisar
construir mais sonhos
vencer a escuridão e o medo
da imperceptível hora.
Para sempre viveria
compadecida
entregue
concluída.

10 agosto 2006

Um pouco de trabalho faz bem!



Desde as 18h (eu, Zica, Lusi e Cecile) fizemos a revisão da 4 ed. deste Manual. Mais uns dias e se finaliza.

09 agosto 2006

Johnny Depp


PIRATA DO CARIBE

Na tela do monitor
o
Pirata do Caribe olha
belo
sem retoques
ar feroz sem complacência
ar de mistério que me encanta.

Pirata do Caribe
guia das estrelas
sem destino desenhado
trafega rios e mares
espera
o amor em cada margem
promete
abraços
beijos
guarda
tesouros no peito
mesclados de ilusão.

Pirata do Caribe
baú de histórias
completa inspiração da vida
pirata enganador de corações
.

Bethânia canta e lembra Vinicius

Vinicius e Gilda Mattoso
O mais-que-perfeito
Vinicius de Moraes

Ah, quem me dera ir-me
Contigo agora
Para um horizonte firme
(Comum, embora...)
Ah, quem me dera ir-me!
Ah, quem me dera amar-te
Sem mais ciúmes
De alguém em algum lugar
Que não presumes...
Ah, quem me dera amar-te!

Ah, quem me dera ver-te
Sempre a meu lado
Sem precisar dizer-te
Jamais: cuidado...
Ah, quem me dera ver-te!

Ah, quem me dera ter-te
Como um lugar
Plantado num chão verde
Para eu morar-te
Morar-te até morrer-te...


(Montevideo, 01/11/1956)

(Falado por Maria Bethânia no show
Tempo Tempo Tempo Tempo,Cap. 34)

04 agosto 2006

Parabéns! Fernando!



















Fernando Rezende, menino!
Hoje é seu aniversário!
Já é um jornalista do Portal da Globo-BH.

03 agosto 2006

OS REZENDE DA MINHA VIDA

Guilherme e Lúcia Helena
A casa deles - São João del Rei


MADRUGADA

Para Guilherme Rezende

Para que me ouças
é preciso que a noite se desnude do véu de sombras
revele seus mistérios e encoste ao teu ouvido
minha fala de anjo.
As palavras que te direi serão banais
com a carga vital que armazenamos
de ar da maresia evaporada das vagas
de qualquer mar.
Não ouvirás segredos nem promessas!
As palavras que te direi serão fatais
manifesto profundo
das verdadeiras sensações
paridas da convivência minguada
pelo cerco das montanhas
pelas estradas sem fendas
pela mudez do tempo.
Para que me ouças
naufraga teu olhar delicado
na linha invisível do horizonte
onde
construída de aurora e madrugada
terei tempo
terei coragem
terei audácia
para vencer os dragões do medo
e dizimá-los
e de resto
um cofre de lembranças
armadura de seda
para a solitária travessia deste dia.

Momento Cantoras 2

Gal e Tom
As origens da Bossa Nova e do Tropicalismo foram mostradas pela Directv com o foco principal em Gal Costa. Histórias, depoimentos, imagens. Valeu!

Momento Cantoras!

O disco de Zélia Duncan - Pré-Pós-Tudo Bossa Band- é surpreendentemente bonito. Agradável de ouvir. E Eu me transformo em outras também.

02 agosto 2006

O filho do poeta

Arlete me ligou convidando para ir assistir ao filme (curta) premiado de Frederico, seu filho , no Box Cinemas. O cinema estava completamente lotado. Todas as pessoas conhecidas, amigos, artistas, escritores, músicos, cineastas locais. Reencontro de amigos. Sorrisos, batidinhas no ombro. Adolescentes às dezenas. Na fila quando o poeta Nauro passou por nós - abraços, carinho. Na sala de projeção, Frederico ensaiou algumas palavras para expressar seu sonho de fazer aquilo. Início.

À cada cena a música maravilhosa de Joaquim Santos invade a sala escura e confortavelmente fria. Mas dentro de cada um da platéia algo toma conta dos poros. O calor da emoção de ver o poeta trôpego. Seus passos cambaleantes pelos paralelepípedos das ruas estreitas da cidade que o conhece e aplaude. Sua voz vibrante algumas vezes. Sua voz inaudível em outras. Seu riso escancarado. Berros. Mãos para o alto. Invocando a graça de Deus?
Nauro declama seus poemas entre um gole e outro do que a garrafa rotulada guarda. Fala com transeuntes. Solfeja. Exalta. Comove. Diante do mar caminha, sapatos na mão, pés nas águas que beijam a areia e sua alma ferida. Mais que sapatos, carrega o peso do mundo. O mesmo peso de que se queixa. Solidão.

Chocante. Emocionante. Vontade de erguê-lo da chã sarjeta. Pessoas olham e deixam que ele ali extravase seus demônios, suas dores, seus mais subterrâneos pecados e medos.

O jeito que o filme me tocou

SALVE NAURO!

Pode se ter pai bacana
pai quadrado
pai antigo
pai feliz
pai alcoólatra
pai poeta
mas ter pai
alcoólatra e poeta
é diferente
especial
demais.

Compreensível
para quem tem a alma generosa
ao extremo
ao ponto de expor sua própria
compreensão
à execração
ao julgamento injustificado
ao escárnio
de quem tem a alma pequena.

Mas o que se vê
é o amor
a dedicação inteira
inconsútil
do filho aberto a todas as impossíveis
conspirações contra esse inusitado ou comum
comportamento de um ser humano talhado para o poema
chama que arde perenemente indiferente a todas as convenções.
Poeta que vasculha a profundidade dos sentimentos do mundo
Poeta do olhar para as mais inquietantes aberrações da vida
Poeta total e sem concessões.
Nosso poeta. Salve Nauro!

26 julho 2006


Domingo. Julho quase se acabando neste ano de 2006. Foram seis meses de atividades “extra-house” com alguma satisfação, novas experiências na área administrativa e uma incursão inusitada pelo Poder Judiciário que não me apraz repetir. Agora o tempo inteiro para mim. Adeus sapatos calçados de manhã. Papéis, tarefas, traje compatível com o ambiente. Salas climatizadas ao extremo. Cena, palco. Palavras, atitude politicamente correta. Telefones tocando intermitentemente. Juizes reclamando. Desembargadores adentrando sem aviso. Chegou à medida: Paz! das manhãs ensolarada pela janela, pela sala, pela rua, pela praia, pelo mar, pelo céu. Paz da casa desarrumada, livros e discos misturados a quebrar-se. Paz das saladas prometidas. Paz da música. Paz das histórias que inventarei. Paz nos poemas não escritos. Paz da tela na tv com meu programa preferido. Paz do que não sou obrigada a fazer. Paz de computador mal comportado querendo upgrade. Domingo de julho que se vai entre festas de aniversário e projetos para os melhores meses que virão.

23 julho 2006


VanGogh é luz para os olhos!

19 julho 2006

Este sorriso estava perdido em meu hd. Felizmente foi encontrado. Salve Mari!!

Chá de jasmim, biscoito de aveia, novela das nove.
Faz calor porque a maré está seca. Baixa-mar. Quando encher, o vento estará de volta para me refrescar.
(na foto, Kate Moss)

17 julho 2006




Maria Bethânia surpreende em suas entrevistas. Especialmente na do show Tempo Tempo Tempo Tempo. Sentada e rodeada de livros em sua mesa de escritório folheia os preferidos de poesia e lê muitas escolhidas para a ocasião. Dentre as poetisas está Sophia de Mello Breyner que ela depois de ler expressa:
"tia Sophia arrebenta!..."
Ausência
Num deserto sem água
Numa noite sem lua
Num país sem nome
Ou numa terra nua
Por maior que seja o desespero
Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.

Sophia de Mello Breyner Andersen
Achei essa foto em outro blog. Maravilhosa!
Finalmente meu computador teve seu hd faxinado! Está novinho e muito mais rápido.
J. veio e atualizou os programas mais usados, incluindo anti-virus.

16 julho 2006

São João del Rei

Saudades de caminhar nessas ruas estreitas !

Hoje meu pequeno mago completa 8 anos!




Eis as cartas que favoreceram meu encontro com Clarice Lispector - três anos depois.
Coincidência de datas (24/10/1974 - 24/10/1977)
Outro autógrafo de Clarice, A Hora da Estrela

Esta é a imagem da Clarice que conheci em 1977.

Autógrafo de Clarice Lispector para Aurora no livro Laços de Família

Estou ainda engatinhando no meu mini-teclado novo e na inserção de imagens no blog.
Clarice Lispector

REVENDO OU REVELANDO CLARICE
São Luís, 18 de dezembro de 1977
Suplemento Sete Dias
Quem mergulhou na ÁGUA VIVA de Clarice Lispector pode perceber Clarice-gente, Clarice-água, Clarice-alegria, Clarice-solidão, Clarice-mistério, Clarice-vida, Clarice-morte, Clarice clara-oculta. ÁGUA VIVA veio parar em minhas mãos por acaso e eu por querer me permiti mergulhar nessa água, e como ela diz “me fiz até o caroço” ou tentei. A partir daí sua obra tem sido minha companheira. Tornei-me irmã dessa sensibilidade magnífica e inefável. Sua obra é minha “paixão” e eu tenho encontrado nela muitas respostas para o que tanto muitas vezes me confundia e me confunde (porque a confusão não passa). Esse “livrinho” sem grandes pretensões e sem grandes citações dos críticos literários seja talvez o que mais revele Clarice, porque é a fala dela, é ela dizendo. ÁGUA VIVA me impressiona, sobretudo pela beleza e pelo que é possível e preciso pescar ali. José Chagas me disse: “esse livro não é um livro para se ler é um livro para se estar lendo” e não se contendo escreveu o poema “Água de Clarice” (1974) ainda inédito. Que jeito dar para Clarice ler o poema? Outra vez o acaso. Um amigo escreve do Rio de Janeiro contando que tinha jantado em companhia de Clarice. E com a carta, Laços de Família autografado __ "a Aurora minha irmãzinha." Era a explosão da minha fantasia, meu ego satisfeito. Em julho, 1977 __ a glória provinciana de conhecer o mito. Encontro marcado pelo telefone. A voz inconfundível de Clarice. Em mim aquela emoção prévia pelo desconhecido. Do Lido ao Leme pensamento dando voltas. O que dizer, o que perguntar a Clarice? (ela que nunca pretendeu dar respostas, ela que sempre só indagou). Ao entrar fui saudada por Ulisses (eu, tão avessa a cachorros). Clarice povoada de azul marinho se me mostrando na claridade escondida daquela manhã de domingo. O temor ao mito se desfez quando ela me mandou sentar onde eu quisesse. E como ela se ocupasse de sua máquina de escrever (portátil) que não queria “andar”, eu pedi para “consertar” e, milagre! Consegui. (eu, experimentada que sou no ofício das teclas, fitas e carretéis). Tarefa cumprida, Clarice estava apta a datilografar a entrevista que tinha feito com Gilda Grilo para a Revista Fatos e Fotos/Gente.Ali, entre plantas, cinzeiros, livros, almofadas e papéis espalhados pelo sofá, Clarice trabalha, fala ao telefone (vermelho) e me vê, me indaga e me diz. De seus retratos, tantos, cobrindo paredes, ela fala com detalhes dos pintores seus amigos. Ali o momento de Clarice, de “Água de Clarice” (que ainda não tinha lhe chegado posto que Sérgio Matta viajara para os Estados Unidos e se esquecera de entregá-lo). Clarice quis saber se havia outra cópia, curiosa que estava.Ali Clarice diante de mim ou eu diante dela me revelando no que nem ouso. Seus personagens foram lembrados e comentados. Macabéa eu conheci ali. De seus livros, A Paixão Segundo GH e A Maçã no Escuro foram os mais discutidos (até onde Clarice permitia discutir sua obra).Ali um momento de Clarice, voltando à sua vida no Exterior, no Nordeste e a possibilidade de vir a esta cidade. Tinha ficado maravilhada com um curta-metragem que vira sobre São Luís. Seus olhos brilhavam mais quando falava do champanhe francês que guardava para brindar o nascimento do primeiro neto. Cafezinho, conselhos e indagações. Amor e sexo, discussão maior. Clarice desvendada (?), clara (?), acessível e tantas vezes contundente. Seus olhos castanhos, de tão luminosos até intimidavam. Clarice viva dizendo meu nome com dificuldade. Logo chegaria alguém que a levaria. Espontâneo o convite para almoçar com Sonia (se pós-graduando em literatura na PUC) e Sheila (que esperava embaixo) moça, bonita, mãe, solteira e psicanalisada.Entre batidas de côco e camarão grelhado, a conversa vazava a vida e a decorrência dela. A simplicidade, a permanência, a existência de Clarice era tocável. Clarice entre nós querendo saber de nós.Doce de côco como sobremesa era seu desejo. Com tanto no Maranhão e Clarice tendo que usar o seu faz-de-conta para conseguí-lo no restaurante da esquina. Doce de côco e cafezinho na intimidade de sua copa (era folga da empregada). Depois os cigarros fumados no sofá da grande sala. Entre quadros e objetos Ulisses presente. Enfim, a despedida. Clarice precisava trabalhar – encher o domingo. “Sábado é o esplendor, o domingo é oco”. Não voltei a ver Sonia ou Sheila.Em São Luís, de volta, os contatos com Dr. Domingos Vieira Filho, Presidente da Fundação Cultural do Maranhão e com o Secretário de Planejamento, Dr. Paulo Marchesini possibilitaram dizer a Clarice que São Luís a queria para uma conferência, contato com estudantes de literatura e conversa com os intelectuais e com quem se interessasse por ela. As providências foram tomadas e logo passagem aérea e estadia foram autorizadas.Voltei a ver Clarice em outubro, quando fui encontrá-la em seu apartamento. Eu com o coração aos pulos. Segunda-feira de manhã, 24 de outubro. Era um dia que Clarice não gostava, por causa da feira embaixo de seu prédio.Clarice me aguardava e mal eu entrei foi-me pedindo desculpas pela “desarrumação da casa” (a empregada não tinha ido). Muito papel amassado, cinzeiros cheios, jornais. Como se estivesse ali o retrato de seu domingo, (pois era o dia em que acordava mais cedo e trabalhava mais).Eu diante dela outra vez. Coração mais calmo. Já me acostumava àquela presença ansiada e temida. Queixei-me de não ter encontrado seu último livro A Hora da Estrela nas livrarias de Copacabana. Falei-lhe das críticas favoráveis e O Globo e Veja.Entusiasmada com a possível vinda a São Luís, Clarice contata com seu editor __ havia a chance de fazer o lançamento de A Hora da Estrela aqui.Ver São Luís, escrever sobre a cidade e o povo eram vontades suas. De alguma forma era a volta ao nordeste. De jóia rara chamou o poema de José Chagas (que eu tinha deixado na véspera). E por isso e pela minha Amarela Tessitura (poema) a pergunta direta e incisiva: “de que ou de quem vocês se escondem? Por que vocês tem medo de se mostrar?” não soube responder. Não sabia como. Tanta coisa dita e redita. E à confirmação de sua vinda a preocupação: “quem lê meus livros no Maranhão?”. E o compromisso de que eu seria sua cicerone (sem banquetes ou badalações). No meio disso A Hora da Estrela (o último exemplar que tinha em casa e A mulher que matou os peixes autografados com sua letra trêmula.Eu ali outra vez diante de Clarice ou ela diante de mim. Clarice que causa menos espanto com sua mão dilacerada pelo fogo do que pela anunciação de sua palavra. Clarice me despede no elevador do 7º andar e eu nunca mais a vi. No final do Leme as amendoeiras fazem sombra.

12 julho 2006

VOLPI
Dia de comemorações - o aniversário de nossa amiga C. - gaba-se de seus 59 anos. Maravilha! Almoço de peixes e camarões. Amigos, filhos, nora e netos. Presentes, pelas palavras.



Agora tenho o tempo para eu fazer o que quiser. Comecei por conferir a digitaçao dos poemas já editados - Cavalo Dourado / Nó de Brilho / Memória da Paixão. Depois os poemas inéditos. Próxima etapa será exportar para o PageMaker, caminho da edição.
Hoje é meu último dia no TJ. Amanhã se inicia outra gestão e eu e Marcos estamos fora. Foram dois anos e seis meses. Embora tenha sido muito bom ter mais alguns $$$$$$$ já estava de saco cheio de sair todo dia de manhã de sapato e blaser. Sempre estive de bom humor e achando a vida linda. Mas agora é a hora de andar na casa, rever o jeito de vestir, ouvir os discos que me aguardam na estante, ler os livros ganhos e comprados, escrever poemas, aprender a gravar dvds, escrever cartas, tomar sucos verdes, comer saladas previamente preparadas, inventar pratos com salmão e continuar a achar a vida linda.
Deitar numa rede que nem Tom.

11 julho 2006


Morro de saudades do pequeno mago: Breno!

02 julho 2006







PRESSA DE CHEGAR

Não te demores para vir
em todas as horas
o dia se fartará de tua luz
vem com pressa!
não temas a escuridão
das noites abissais
vem com pressa!
nas noites enluaradas
reinarás entre as estrelas

Não te demores!
traze quotas de alegria
de fé ou de espanto
é hora de refazer o laço desatado

Não te demores!
a frágil agonia se aproxima
se anuncia e se apodera
do corpo e da alma
que em soluços
se inquieta
se não vens debruçar-te
e adormecer
antes que a aurora dissipe
o sonho de agasalhar-te
entre meus braços.

















NÓ DE BRILHO

Nascerei tantas vezes
Que a matéria de ser
Minguará
Nascerei do suor
Que o gesto alarga
Nascerei do fogo
Forjador da pele
em brasa
nascerei do gesto
libertado
nascerei do brilho
que a nudez do dia
transfigura
nascerei profana
vaca
peixes
luz do dia
nascerei março
nó de pedra
nó de brilho

nascerei trilha
sol
velas ao vento
nascerei água
aurora
maresia

nascerei sangue
que me lastra
vias de fervor
nascerei garra
flor
maré de lua
nascerei manga
colibri
açude
cerca

Nascerei tantas vezes
Que a agonia
Fracará

Nascerei só
De brilho.

01 julho 2006


Este é um teste com figuras!

Primeiras palavras!


Esta é uma tentativa de criar um blog. Descobri que este é um modo de colocar algumas idéias e que qualquer pessoa que se interesse pode ler. Principalmente porque quero aqui postar poemas meus e outros de meu agrado.