Seguidores

20 abril 2010

VESTÍGIO DE HELENA_AS HORAS















                                 (desenho de Marcia Tiburi)
Um ábaco para contar os dias findos
e as horas de herança sem papéis cartoriais.
Cobaias silenciosas.
Relicário do sabor das doces frutas.
Horas mensais de tanta espera.
(AuGraca, 2010)

19 abril 2010

VESTÍGIO DE HELENA

  
















            (desenho de Marcia Tiburi)
O corpo adormecido pressiona a pele nacarada
lâmina orgânica de veias desenhadas por um sangue de outra cor.
Nenhuma compaixão para esse mundo desmoronado.
A ferida morta ainda sangra o tempo das despedidas.
As palavras os gestos o calor do corpo escapam da memória.
O tempo de agora se vai.
A vida míngua.

(AuGrac,2010)

13 abril 2010

TATOO


A moça arranca a venda/
olhos descobertos
brilho do mel ocultado nas retinas.
(In)voluntariamente/
despe o agasalho escuro
desnuda braços e mente
abstrai o que tolda a luz
cravada no cadinho medieval.
Mostra-se.

11 abril 2010

ANTI-ALELUIA

Alguém anunciará nas quintas-feiras
o destino premiado da alegria
aos sábados recolherei as gargalhadas
da aurora delirante
2
o vento espalhou na relva
meus sonhos tingidos de manhã
sem ímpeto
sem o fio da lâmina
desenho rasurado
deixei escapar
os sonhos arrebatados pelo vento
3
tivesse fé nos milagres e nos santos
escreveria Ladainha e Glória
para clamar a vida escorraçada da ventura
tivesse lume entre os poros e as veias
acenderia fogueiras
labaredas
mastros de luz ao meu redor
4
com meia máscara cobrirei minha alma
de tão pequena caberá entre os olhos recortados no cetim
se fugir desgovernada
delicada palavra guiará seu vôo
fica
5
o corpo fraqueja se não tomo a água
que lava os olhos amanhecidos reféns da insônia
breu do avesso
6
molduras de ouro
para as águas de olhos esquecidos
represa
7
horas inúteis sobre a pedra
olhos ilhados no mesmo olhar
abrolhos sem mar
estacas de vento
maresia intacta
se “todo cais é uma saudade de pedra”
serei rochedo.
(AuGraca, 2010)
Publicado no blog:
http://colunas.gnt.globo.com/pinkpunk/ de Marcia Tiburi.

EU POR MIM


Na vida fiz tudo o que me compete
conheci letras brinquei com elas
achei temperos fiz iguarias
andei no mundo das catedrais
fugindo dos desatinos
na vida nunca fui bela
não tive bodas nem descendentes
flertei com o amor disfarçado
mordaça oculta
no dia a dia
ganhei meu quilo de sal
de cada gota do mar
(beirais de brancas espumas
mistério de verde encanto)
herança banal para a vida
de afetos desencontrados
milagres inesperados
ataram fios e teias
de sonhos despedaçados
soldaram elos partidos
cicatrizaram feridas
ao longo de tal viagem
na vida
qualquer destino inclui a felicidade
tal rédea move o desejo
se a alma desenganada
deslinda no verso do espelho
o ouro de minha fala.
(AuGraca,2010)

04 abril 2010









PAIXÃO DE CRISTO

O Cristo na cruz de séculos
vela cabisbaixo sua morte anunciada
contempla (sem ver) o sofrimento espelhado
nas praças das cidades sem fé
ali sob holofotes
os que se cobrem de andrajos
ferem-se nos espinhos de arame
o sangue fabricado
escorre da coroa de aluguel
inutilmente.
(AuGraca , 2010)