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16 fevereiro 2008

CHUVA! CHUVA!

(foto de Fernanda Guimarães Rosa)

VÉU LÍQUIDO

Noite úmida
véu líquido
penetras na minha nudez e revelas o que é frágil e sem beleza
olho em mim
decido cobrir o que melindras com tua réstia de gelo

procuro em qualquer mala alforje ou gaveta
o que possa vestir-me
não quero vestidos nem casacos
tampouco uniformes ou trajes extravagantes
sem apuro
o que eu quero mesmo eu sei
encontrar qualquer trapo
para cobrir a nudez inesperada
a nudez que se despetala no tempo
a nudez que acoberta o segredo dos desejos
a nudez insensata dos desvalidos

cobrir a nudez
protegê-la da névoa e do frescor dos ventos
recolher o corpo à calmaria dos panos

noite úmida
véu líquido
cobrir a pele e esconder a nudez no pensamento
não dizer nada
não ver a nudez
não tocá-la
deixá-la ao léu
isentá-la
ignorar que a nudez mostra o corpo e esconde as entranhas
oculta o que medra entre os ossos
move a lucidez do encontro e reduz a incerteza

cobrir a nudez
seus calores e suas ânsias
toldar-lhe o viço
fechar seus poros
abrandar-lhe a fúria

cobrir a nudez
espaço da pele onde a ternura pode fazer morada
moldura ou armadura a esquivar-me das flechas envenenadas
portadoras do que pode matar ou salvar.

(AuGraca, 2008)

2 comentários:

Mamãe Oshiro disse...

Eu visito a Fer todos os dias no seu Chucrute com salsicha!!!

Mamãe Oshiro disse...

essa ana aí em cima sou eu Aurora! Copacabana de Toledo!
Beijinhos