Seguidores

30 abril 2007

















GAVETAS MÁGICAS

Tempo perdido de arrumar gavetas
povoadas de coisas inúteis
rastros do que não é mais
imagens palavras badulaques

tempo perdido colado no fundo
entre as frestas
por onde escapa a poeira
do tempo perdido

Gavetas!
Meu tempo perdido na sombra que guardas
quando fechada em ti mesma
escondes meus ou teus segredos
que o tempo diluiu em farelos de madeira

tempo perdido
do que antes era eu
sem as dobras que me esmagam
e me fecham ao olhar de quem me espreita

tempo perdido
sem as alças e seus grampos
para atar-me e não perder-me
como papéis manuscritos
imprestáveis portadores de desejos
inconfessáveis

arrumar gavetas vagar no tempo
entre sombras e fantasmas?

arrumar gavetas para que?
resgatar que tempo?
o que está perdido?
Gavetas para sempre abertas
cheias de lápis ligas tesouras
lupas fita adesiva grampeadores
tubos de cola marcadores de texto

Gavetas que me olham insistentes
sugerindo para elas
de volta meus segredos
em papéis amordaçados e silêncios.

(Aurora da Graça, 2007)

Nenhum comentário: