TESTAMENTO ANTECIPADO
Não quero ser a mulher velha
pensativa
que lamenta seus humores
seu excesso de decoro
suas idiossincrasias
não quero ser a mulher velha
sem o brilho nos cabelos
sem a boca que deseja beijos grandes
e calores pelo corpo
por inteiro
não quero ser a mulher velha
pelos cantos do planeta
sonhos recolhidos no pavor sem lucidez
do vivido ou imaginado
pensativa
que lamenta seus humores
seu excesso de decoro
suas idiossincrasias
não quero ser a mulher velha
sem o brilho nos cabelos
sem a boca que deseja beijos grandes
e calores pelo corpo
por inteiro
não quero ser a mulher velha
pelos cantos do planeta
sonhos recolhidos no pavor sem lucidez
do vivido ou imaginado
não quero ser a mulher velha
ofegante temerosa de seus passos
pés calçados meias grossas e pantufas
ofegante temerosa de seus passos
pés calçados meias grossas e pantufas
não quero ser a mulher velha
esquecida dos amores que viveu
nos poemas reescritos na memória em desalinho
esquecida dos amores que viveu
nos poemas reescritos na memória em desalinho
não quero ser a mulher velha
controversa sem pudor ou alegria
compelida a rigores que massacram suas irmãs
controversa sem pudor ou alegria
compelida a rigores que massacram suas irmãs
não quero ser a mulher velha
idéias cruas sem o lume da poesia
para entender as dobras do oculto
nas ranhuras fatais da agonia
idéias cruas sem o lume da poesia
para entender as dobras do oculto
nas ranhuras fatais da agonia
não quero ser a mulher velha
construída de ossos fracos
pele em franjas sem nácar que realce
os anos do fulgor inexistente
construída de ossos fracos
pele em franjas sem nácar que realce
os anos do fulgor inexistente
não quero ser a mulher velha
riso apagado complacente
e nenhuma gargalhada
riso apagado complacente
e nenhuma gargalhada
não quero ser a mulher velha
alheia ao tempo ao tédio
combalida
entregue às farpas da amargura e só.
alheia ao tempo ao tédio
combalida
entregue às farpas da amargura e só.
(Aurora da Graça, 2007)
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