A AURORA e A GRAÇA
O Tempo Guardado das Pequenas Felicidades
E Memória da Paixão, Nó de Brilho, Cavalo Dourado
Eu vejo Aurora da Graça,
em plena graça da aurora,
quando a poesia ultrapassa
e quando a beleza aflora.
E vejo o alvor da manhã
preparando um novo dia,
com seu límpido elã
que move o sol e o recria.
Obra de Aurora da Graça,
na graça com que elabora
o róseo que a luz enlaça,
abrindo-se em nova aurora.
Vejo o rosicler que enfeita
os horizontes da vida,
quando a manhã fica à espreita
de um sol que se consolida.
Vejo a aurora boreal,
com seu raio multicor
iluminando o vitral
de uma catedral de amor.
E vejo o esplendor da aurora,
quando em manhã se desfaz,
mostrando a aura e a hora
de um sentimento de paz.
Tudo enfim na aurora brilha,
com as cores que muitas são;
revela as cores da ilha
e até de outra inspiração.
Sabe as cores da vertigem,
do abismo e dos fragmentos,
e mesmo as que se dirigem
conforme o sopro dos ventos.
Depois de tantas facetas
com que ela tanto nos brinda,
suas mágicas gavetas
o que guardarão ainda?
2
O tempo que foi guardado,
mantido em lírico empenho,
contou com o extremo cuidado
que vem da arte e do engenho.
Um tempo de poesia
guardando em seu brilho puro
o quanto agora alumia
o que estava em nós, no escuro.
Seu estro vem sem apelo,
vem espontâneo e singelo,
e Aurora sabe dizê –lo,
sabe o é que simples no belo.
Sabe todos os caminhos
por onde se vai e vem,
e ainda por chãos daninhos
ela se encaminha bem.
Entre as suas mil verdades,
eu negarei uma, apenas:
é sobre as felicidades,
elas nunca são pequenas.
Pois todo instante feliz
faz-se eterno enquanto dura,
e ainda deixa cicatriz,
não de dor, mas de ternura.
Felicidade nenhuma
precisa ser muito grande
para que se tenha em suma
o quanto dela se expande.
Quando o prazer só nos trisca,
já de si se faz profundo,
como uma simples faísca
pode incendiar o mundo.
3
Mas eu vejo o bom proveito
que do tempo Aurora fez,
dando ao seu lirismo eleito
um sonho de cada vez.
A poesia reunida
da Aurora nos mostra bem
quanto a grandeza da vida
de belo e profundo tem
Antes vi o Nó de Brilho
que ela em seus versos desata,
deixando em tudo o rastilho
de uma luz fulgente e inata.
E também vi quando passa
no seu Cavalo Dourado,
vai toda cheia de graça,
para um lírico reinado.
Já Memória da Paixão
deixa a paixão em memória,
saudades que durarão,
mesmo em vida transitória.
4
Aqui a aurora da vida
não é casimiriana,
não é saudade perdida,
na infância que desengana.
Aqui é a vida da Aurora,
que em poesia se exprime
e em sonho se revigora,
no que há de mais sublime.
Sua poesia é expressa,
livre e diária se cria,
como não há quem impeça
que o sol nasça todo dia.
5
Ainda hoje em mim demora
a luz que um sonho irradia,
desde que vi em Aurora
o alvorecer da poesia.
Ó musa cheia de graça
de graça e de dons risonhos,
que nunca um dia renasça,
sem a aurora de teus sonhos.
Não há coisa mais humana,
e mais que humana, divina,
como a poesia que emana
de uma aura matutina.
E a poesia entrelaça
a pessoa e a sua hora:
nos dando Aurora da Graça
e ainda a graça da aurora.
José Chagas, outubro 2010
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