Seguidores

12 março 2012


















Era tempo de laranjas!
Na minha boca sal era o dono do sabor
brotava da alma em prantos.
(2011)

DIA INTERNACIONAL DA MULHER



Dia 08 de março de 2012
Hoje, no consagrado e badalado, Dia Internacional da Mulher, não falta quem realce os avanços da mulher no mundo atual. A mulher inteligente, competente, competitiva, e consciente que alcançou um lugar no mundo dos “homens”.
De minha parte, por ter estudado e participado do mundo em que as ideias poderiam ajudar a mudar o comportamento das mulheres submissas aos seus homens mais próximos, lembro-me da mulher que passou a vida procurando um lugar para viver mesmo tendo que submeter-se ao trabalho doméstico de passadeira na casa da tia e, depois, quando um homem a viu e a pediu em casamento sem namoro ou coisas que tais. O casamento durou o tanto que durou a vida do marido. Homem de trabalho, contudo, atormentado pelo vicio do álcool. A mulher aguentou a bebedeira, o silêncio, as noites com os filhos pequenos até formarem doze. Madrugadas intermináveis com o bumba-meu-boi cantando na praça em frente da casa e o marido ausente nos cabarés.
Essa mulher foi levada para a cidade. O marido foi trabalhar na loja de instrumentos musicais do irmão mais velho. Mas o que ganhava era pouco para sustentar tantos filhos. Para aumentar a renda, a mulher novamente viu passar as madrugadas de olhos abertos. Na cozinha, preparava bolos de milho chamados de manuês e cocadas que mandava vender pela manhã.
De tantos filhos, uns estudaram, outros vararam o mundo e não voltaram. Os menos audaciosos permaneceram e conseguiram trabalhar em empregos sem criatividade. Era preciso manter o que de família existia na figura de pai, mãe, comida frugal na mesa e silêncio. A palavra diálogo era apenas uma palavra no dicionário de capa preta.
Hoje, no dia em que a mulher é enaltecida pelas suas conquistas no “mundo patriarcal” louvo a mulher que fazia cocadas e manuês. Que cozinhava a comida comprada dia a dia – carne guisada com vinagreira.
A mulher que desejava um filho bancário e uma filha professora. Seu desejo foi realizado. Essa mulher, de gestos simples, inteligência aguda, outros desejos também tivesse. Minha mãe.
(Aurora da Graça, oitava filha de Dona Aracy)