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17 dezembro 2010

EMAIL POÉTICO

Caríssima,
Que versos! Que sutileza! Gostei tanto! Tua poesia afunda no coração, sabe? E tem maciez, e tem canto, e tem... Gostei das imagens "noite morta", "sobras da fome", "água do tempo", o fim da agonia brotando de uma luz! Cada sensação escorre de um verso, que é também uma cena imaginada com cuidado, sob luz cor de manteiga, envolvidas, as cenas todas, em perfume de flor seca. Desejo uma ótima sexta-feira e umas pautas palpáveis para transcrever as horas apertadas do dia.
Um beijo de cá,
Alex Sens

A TARDE


A tarde se parte.
Um lado de sombra me acolhe
ando pelo corredor sendo feliz.
Na mesa da cozinha
as sobras da fome desmedida dizem além do copo
impregnado de teu hálito.
Não me importa a louça na pia.
Resto de café migra para o ralo
pensamentos corporificam tua presença
milagre da tarde dividida.


Na orgia do tempo
serei apenas a dona dos arrozais vergados
das quinquilharias imprestáveis
dona da noite morta.
Por bebida, água do tempo
de certeza, o olhar
varando a indelével promessa
ser mais clara que o sol
se dessa luz brotar o fim da agonia.

11 dezembro 2010

POETA JOSÉ CHAGAS escreve sobre O TEMPO GUARDADO DAS PEQUENAS FELICIDADES


A AURORA e A GRAÇA
O Tempo Guardado das Pequenas Felicidades

E Memória da Paixão, Nó de Brilho, Cavalo Dourado

Eu vejo Aurora da Graça,
em plena graça da aurora,
quando a poesia ultrapassa
e quando a beleza aflora.

E vejo o alvor da manhã
preparando um novo dia,
com seu límpido elã
que move o sol e o recria.

Obra de Aurora da Graça,
na graça com que elabora
o róseo que a luz enlaça,
abrindo-se em nova aurora.

Vejo o rosicler que enfeita
os horizontes da vida,
quando a manhã fica à espreita
de um sol que se consolida.

Vejo a aurora boreal,
com seu raio multicor
iluminando o vitral
de uma catedral de amor.

E vejo o esplendor da aurora,
quando em manhã se desfaz,
mostrando a aura e a hora
de um sentimento de paz.

Tudo enfim na aurora brilha,
com as cores que muitas são;
revela as cores da ilha
e até de outra inspiração.

Sabe as cores da vertigem,
do abismo e dos fragmentos,
e mesmo as que se dirigem
conforme o sopro dos ventos.

Depois de tantas facetas
com que ela tanto nos brinda,
suas mágicas gavetas
o que guardarão ainda?
2
O tempo que foi guardado,
mantido em lírico empenho,
contou com o extremo cuidado
que vem da arte e do engenho.

Um tempo de poesia
guardando em seu brilho puro
o quanto agora alumia
o que estava em nós, no escuro.

Seu estro vem sem apelo,
vem espontâneo e singelo,
e Aurora sabe dizê –lo,
sabe o é que simples no belo.

Sabe todos os caminhos
por onde se vai e vem,
e ainda por chãos daninhos
ela se encaminha bem.

Entre as suas mil verdades,
eu negarei uma, apenas:
é sobre as felicidades,
elas nunca são pequenas.

Pois todo instante feliz
faz-se eterno enquanto dura,
e ainda deixa cicatriz,
não de dor, mas de ternura.

Felicidade nenhuma
precisa ser muito grande
para que se tenha em suma
o quanto dela se expande.

Quando o prazer só nos trisca,
já de si se faz profundo,
como uma simples faísca
pode incendiar o mundo. 
3
Mas eu vejo o bom proveito
que do tempo Aurora fez,
dando ao seu lirismo eleito
um sonho de cada vez.

A poesia reunida
da Aurora nos mostra bem
quanto a grandeza da vida
de belo e profundo tem

Antes vi o Nó de Brilho
que ela em seus versos desata,
deixando em tudo o rastilho
de uma luz fulgente e inata.

E também vi quando passa
no seu Cavalo Dourado,
vai toda cheia de graça,
para um lírico reinado.

Já Memória da Paixão
deixa a paixão em memória,
saudades que durarão,
mesmo em vida transitória.
4
 Aqui a aurora da vida
não é casimiriana,
não é saudade perdida,
na infância que desengana.

Aqui é a vida da Aurora,
que em poesia se exprime
e em sonho se revigora,
no que há de mais sublime.

Sua poesia é expressa,
livre e diária se cria,
como não há quem impeça
que o sol nasça todo dia. 
5
 Ainda hoje em mim demora
a luz que um sonho irradia,
desde que vi em Aurora
o alvorecer da poesia.

Ó musa cheia de graça
de graça e de dons risonhos,
que nunca um dia renasça,
sem a aurora de teus sonhos.

Não há coisa mais humana,
e mais que humana, divina,
como a poesia que emana
de uma aura matutina.

E a poesia entrelaça
a pessoa e a sua hora:
nos dando Aurora da Graça
e ainda a graça da aurora.

José Chagas, outubro 2010

Chegaste.
Silêncio no andar descompassado.
Nenhum aroma te anuncia.
Alumbramento é teu nome.
2
 
De nada serviu meu sofrimento
decidi sozinha o destino da herança
poema rascunhado na vidraça
duas amêndoas mofadas
o par de muletas de meu pai.
Esquecida atrás da porta
minha identidade secreta
na máscara de cetim usada no carnaval.
 
Pouca coisa na mala de guardados.
Em meu coração os artifícios da fé
agora inútil.
 
(AuGraca 2010)

09 dezembro 2010

CONVERSINHA

Um olho diz para o outro: Varei a madrugada! Perdi a dobra do sono.

HSchopenhauer_

 Asas em meus pés/ faca de cozinha na mão do demônio azul/ espero o escuro/ vingo-me ao esquecer o passado.

Parti o silêncio em dois/ restaram lados direito e esquerdo de um precipicio/ teus olhos vitreos de morto/ escorreguei quebrando as pernas.

O TEMPO GUARDADO DAS PEQUENAS FELICIDADES, uma carta


Querida Aurora,

Foi um imenso prazer te conhecer. E agradeço a delicadeza de ter ido ao bate-papo na Feira do Livro. É impressionante como ainda não te conhecia pessoalmente.
Muito me agradou tua poesia envolta em papel de seda, provavelmente porque também tecida com extrema delicadeza: Pela casa / desencontrados e sem lugar marcado / os manuscritos se escondem / em qualquer gaveta sem chave / os livros mofam em qualquer armário sem portas / sobre a cama em desalinho / em seda e linho [...]. Traduzindo a delicadeza da percepção da poeta, a imagem da seda, associada à sensibilidade, está presente em vários poemas, reafirmada na epígrafe de Helena Schopenhauer Borges(à p.251): [...] sou feita de seda e pó. Eu-lírico feminino ciente de que só o coração vê a luz (Olhar aprisionado, p.46), donde advém a quase dependência do amor como fonte de luz e de vida, de redenção das agruras da existência: Achega-te /Arranca-me das sombras violáceas onde sobrevivo (p.31). Importância do amor reafirmada em Intervalo (p.347): Lavei a casa / murmurei teu nome / bebi nas bicas / mais que água / sonho. Poeta delicada, mas que, nem por isso, nega-se à busca de um amor intenso e revigorante: [...] outras vezes, solidária e temerosa / tua voz e teus gestos comedidos / enfrentaram meus afoitos movimentos pela vida (Silêncio Exagerado, p.147).
Sensibilidade à flor da pele do eu-lírico, O tempo guardado das pequenas felicidades é feito de muitos amores: pela alegria encantadora de Breno (p.181), pela lembrança das tias melancólicas (p.187), da temperança do pai (p.195), da presença do gato (p.190), da evocação dos olhos azuis do Menino Jesus (p.194). A esse grande mosaico de afetos e de cores, não poderiam faltar a terra (com seus sabores, danças, serpentes encantadas), como se vê em Trilha das Águas p.230); e a própria poesia, que faz a poeta nascer eternamente: Nascerei tantas vezes / que a matéria de ser / minguará / nascerei do suor / que o gesto alarga / nascerei do fogo [...] nascerei março / nó de pedra / nó de brilho / nascerei trilha / nascerei sol / velas ao vento / nascerei água / aurora [...].
Um beijo.
Lenita Sá

02 dezembro 2010

OFICINA GROGOTÓ

Mais um blog dedicado à literatura _ OficinaGrogoto por Marcia Tiburi

http://oficinagrogoto.wordpress.com
(imagem Bruno Schulz)