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27 setembro 2010

Soprado pela janela/
entre segredo e cansaço/
o grito voa longe/
galho da árvore/
ninho de ovos de ouro.
(@HSchopenhauer_ )

24 setembro 2010

POEMA (ANTIGO) DE DRUMMOND

Miragem
Chegou, impressentida e silenciosa,
Com uma saudade eslava nos cabelos
E um ritmo de crepúsculo ou de rosa.
Os olhos eram suaves e eis que ao vê-los,
Outra paisagem, fluída, na distância,
Sugeria doçuras e desvelos.
No coração, agora já sem ânsia,
paira a serenidade comovida
que lembra os puros cânticos da infância.
Logo depois se foi, mas refletida
nesse espelho interior, onde as imagens
se libertam do tempo, além da vida,
Olenka permanece, entre miragens.

Carlos Drummond de Andrade, 1955

23 setembro 2010

Um copo de água turva à cabeceira/
rugas desenham olhos fechados/
uma boca fala na cabeça de Janus/
a outra silencia/
ou espera?
(@HSchopenhauer_ )

21 setembro 2010

(desenho de Marcia Tiburi, 2010)
Um elefante em meu jardim/
criança pequena/
durmo na tromba enrugada/
o hálito aquecido diz meu futuro.
(@HSchopenhauer_ )

16 setembro 2010

Peguei o olho com a mão/
abri a porta do armário/
quebrei o que tinha por dentro/
guardei o que não posso contar entre dentes.

(@HSchopenhauer_ )

O TEMPO GUARDADO DAS PEQUENAS FELICIDADES

...belo!!! feito da melhor cepa poética que tenho lido nos últimos anos...li o primeiro - Nó de Brilho - mas o que vem depois é cada vez mais lírico, mais denso, mais pleno...Deus, Aurora vc me botou em contato direto com o vento e a maresia de S.Luis, tudo que eu pensei ter exorcizado um dia !!! vc me fez fazer as pazes com esta dor existencial, pura, sutil que escorre dos seus dedos e vai junto com os embalos da rede..as tardes que vc descreve com a quietude dos sentimentos profundos ... é tudo tão bonito que eu aceito finalmente tudo que vem com esse sentimento do inevitável em nós..obrigada, amiga, vou levar comigo seu livro na viagem que inicio segunda feira, vou mostrar para o Antenor Bogéa que está na Grécia...é muito, muito boa a tua poesia... clareia e limpa minha alma...me faz melhor, mais doce, mais tranquila. Beijossss muitossss
Anaiza
Aurora,
Já comecei a ler seu livro com muito entusiasmo.
Alguns poemas que já tinha conhecimento, brindaram nossos encontros entre familiares e amigos queridos.Parabéns! Merece um grande lançamento!
Um abraço e um beijo da sua eterna aluna,
Fernanda
Na casa da infância
andava pelos quartos de portas abertas
espaço onde o fantasma de minha avó gargalhava
entre os lençóis.
Só eu via a avó vagando absorta
recitando versos desconexos
olhos de azul perdido
no tempo das fogueiras na praça da Matriz.
Na casa da infância também andava pelo jardim
de espinhos e urtigas.
As rosas despetaladas a cada crepúsculo.
Na casa da infância andava entre os sonhos
de ser poeta.
(AuGraca, 2010)
Abro os olhos da lagarta/
devoro a língua/
folhas verdes forram o leito/
deposito dedos em figa
onde você me pede silêncio.

(@HSchopenhauer_ )

15 setembro 2010

O TEMPO GUARDADO DAS PEQUENAS FELICIDADES

São Luís, 25 de agosto de 2010
Aurora,
Esta tua obra, de belo título, O tempo guardado das pequenas felicidades, é também bonita no seu formato e na simplicidade da capa, refletindo a sobriedade de tua poesia, tua dicção contida, priorizando uma economia estética que qualifica sobremaneira este teu conjunto de poemas já publicados e dos poemas inéditos.
No mesmo dia em que recebi o livro, restringi-me a folheá-lo, manuseá-lo, indagando de mim mesma sobre o tempo ali guardado, adiando o instante de poder saber que felicidades seriam essas em relicário assim delicado e ao mesmo tempo robusto, em grande volume simultaneamente pesado e leve, em minhas mãos ansiosas.
Teu silêncio, quase ausência, nestes últimos anos, depois de publicar três livros de contida poesia, era uma espécie de refúgio, agora revelado num de teus mais belos poemas: tu escrevias! O poema O privilégio da mudez, vem ratificar que “As palavras se desesperam / rompem o que trava a boca / descobrem a fenda salvadora / movem o que está oculto / erram os alvos ou cruzam a linha fatal / do que não deve ser dito / as palavras deveriam ser apenas escritas / e a boca muda.”
Teu livro, Aurora, por sinal, começa com um pequeno poema que já revela uma espécie de preservada felicidade: Varal é confissão sucinta que diz somente isto: “Estirada no varal do coração / escorre o que não digo ou sinto/ a palavra / paz.”
Essa paz que preservas e guardas, tu a tens indelével no coração: relicário de tuas pequenas felicidades ali recolhidas. Tu escreves. E tua poesia reflete esse tempo-guardião assegurando a travessia do que não é dito, e até mesmo do que não é sentido: as felicidades, que chamas de paz, deslizando enigmáticas nas veias desse teu coração.
Conforta-me saber que uma poetisa do teu quilate, consciente desse afazer quase sem recompensa, sente que “as horas de silêncio santificam / o coração atento para o mistério / e o rumor sem fala” que, afinal, gritam alto no coração de teus leitores.
Desculpa, teu livro merece muito mais que estas poucas palavras, eu deveria falar, falar e mais falar, mas me calo aninhada nos furtivos silêncios que se exasperam nos versos que explodem em nós, versos de uma poetisa de fato e de uma amiga de sempre, cujo nome, aurora da graça, reflete a própria poesia: espécie de inaugural e benevolente felicidade.
Obrigada pelo belo livro que foi, te digo, uma auspiciosa e grata surpresa. A amiga, reconhecida,
Arlete Nogueira da Cruz

OUTRO VOO



(desenho de Marcia Tiburi)
A primeira água
limpa o sangue do útero
tinta no rosto nascido.
Não lava a inocência
(timbre definitivo)
carta marcada
arma contra o horror.
Águas futuras
vai e vem vazado do olhar
m(agoado).
(AuGraca, 2010)