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28 fevereiro 2010

Um quarto blindado para a alma
e cerca de farpas ao coração
exilados
asilados
lamentam o tempo
alimento intocado
fugaz.
A névoa abriga o desencanto.
                                  
(AuGraca, 2010)

27 fevereiro 2010

Elias Canetti





"Jamais dominarei os sentimentos.
Havia luto demais em mim: os mortos.
Havia encanto demais em mim: amor."

(Elias Canetti in Sobre a Morte.)

HILDA HILST


Prelúdios-intensos para os desmemoriados do amor


I
Toma-me. A tua boca de linho sobre a minha boca
Austera. Toma-me AGORA, ANTES
Antes que a carnadura se desfaça em sangue, antes
Da morte, amor, da minha morte, toma-me
Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute
Em cadência minha escura agonia.

Tempo do corpo este tempo, da fome
Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento,
Um sol de diamante alimentando o ventre,
O leite da tua carne, a minha
Fugidia.
E sobre nós este tempo futuro urdindo
Urdindo a grande teia. Sobre nós a vida
A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.


Te descobres vivo sob um jogo novo.
Te ordenas. E eu deliquescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da terra, devo
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar
Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo
Imensa. De púrpura. De prata. De delicadeza.


II
Tateio. A fronte. O braço. O ombro.
O fundo sortilégio da omoplata.
Matéria-menina a tua fronte e eu
Madurez, ausência nos teus claros
Guardados.

Ai, ai de mim. Enquanto caminhas
Em lúcida altivez, eu já sou o passado.
Esta fronte que é minha, prodigiosa
De núpcias e caminho
É tão diversa da tua fronte descuidada.


Tateio. E a um só tempo vivo
E vou morrendo. Entre terra e água
Meu existir anfíbio. Passeia
Sobre mim, amor, e colhe o que me resta:
Noturno girassol. Rama secreta.
(...)


[Júbilo memória noviciado da paixão (1974)]
[in Poesia: 1959-1979/ Hilda hilst. - São Paulo: Quíron; (Brasília): INL, 1980.]

23 fevereiro 2010

UNGUENTO E SAL









(Desenho de Marcia Tiburi, 2010)

A moça arranca a venda
olhos descobertos
brilho do mel ocultado nas retinas.
(In)voluntariamente
despe o agasalho escuro
desnuda braços e mente
abstrai o que tolda a luz
cravada no cadinho medieval.
Mostra-se.

2

O destino troca ungüento por sal
goteja desmarcado na ferida isolada
o sangue incolor não revela
a dor.

Aurora da Graça, fev. 2010)

01 fevereiro 2010

Poema de Helena Schopenhauer B.

Odilon Redon, Ophelia, 1905

"Passei a noite vertendo a luz negra no oceano à beira da minha janela
arranha-céus afogados
olhos de âncora
você me dizia ser tudo o que eu queria
carregando uma bandeira azul
sobre um cavalo de oito patas
agarrei-me às suas costas como a borboleta a um tigre e
esperei a tempestade passar


quando voltou o sol
nasceram asas mercuriais em meus tornozelos"

(as " são da própria Helena)

(from http://colunas.gnt.globo.com/pinkpunk)