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29 setembro 2007

[Desenho de Marcia Tiburi]

ASAS PARTIDAS
Aurora da Graça

Meu corpo resiste
submerso na sombra do abandono
que teu olhar desatento me exilou

Meu corpo procura
o rumo das vertentes obscuras
para nelas reconstruir com seus destroços
os precários contornos da alma estilhaçada

Algo essencial está perdido
a medida do corpo
a lucidez e o travo
a máscara
os laços
a luz

Meu corpo perdido de si mesmo
vibra no silêncio a decadência
o aniquilamento
o vôo de pássaro ferido
asas partidas
ampulheta ao contrário
desejos vazados
milagre em vão.

13 setembro 2007

A CRINA
Fernando Chuí

Cavalgo em teus escombros.
Na superfície, ruínas;
no fundo, uma paisagem.
Vejo ali um pulsar
muito maior do que a minha paz.
Dentro de mim, uma distância
que mergulha em tuas secas;
faz dos teus ruídos
minhas preces.
Não sei te montar;
só durmo agarrado a ti
para tragar pra dentro dos meus azuis
teus pesadelos.
Na superfície, eu te aperto;
no fundo, um espasmo.
Afago a crina de cinzas
e sopro meu nome sobre ela.
Sob a nuvem de pó que se levanta
um vermelho vivo se revela.
Sei que são brasas tuas bocas,
mas beijo-as mesmo assim.
Na superfície, me queimo;
no fundo, me protejo.
Pois tua miséria é um cavalo indomável,
sem dono, sem nome,
sem cabimento.
.
Na superfície, eu te necessito;
no fundo, eu te amo...